O Vitalismo na Quiropraxia

Inácio Shibata • June 25, 2021
Quando se entra no mundo da Quiropraxia, observa-se que os quiropraxistas podem ser separados basicamente em dois grandes grupos distintos, os conservadores e os liberais (estes também são chamados de mixers – uma pessoa que utiliza técnicas quiropráticas diversificadas). Há quem também chame este último grupo de mecanicistas, por observarem os problemas do paciente pela ótima das causas materiais e propriedades mecânicas do organismo.

Os conservadores, chamados também de straights (em inglês, pode ter o significado de alguém puro ou de comportamento reto), seguem a filosofia vitalista proposta pelo fundador da Quiropraxia, D. D. Palmer, canadense radicado nos Estados Unidos, em 1895.

Ele se baseou em princípios vitalistas que preconizam que há algo mais para a vida do que meras ações químicas e leis mecanicistas; há uma força vital dentro do organismo vivo que o unifica em um (De Klerk, 1978 p. 1; Strauss, 1991, p. 37).

O vitalista preocupa-se com a pessoa como um todo e descobre as causas subjacentes do mau funcionamento ou doença do corpo. Identificando essas causas, a pessoa pode escolher modos de cuidado de apoio que irão melhorar a função normal e natural. Descobrir as causas da doença capacita o indivíduo a fazer escolhas de estilo de vida que conduzam ao funcionamento saudável do corpo e ao bem-estar geral.

Com isso, o vitalismo parte da premissa de que uma inteligência organizada está presente na matéria. Essa força energética é responsável pela criação e manutenção da vida. O conceito é explicado por um dos princípios da filosofia quiropraxista, que diz: “Uma inteligência universal está em toda a matéria e dá continuamente a ele todas as suas propriedades e ações, mantendo-o assim em existência.” (Strauss, 1991, p. 214).

Desde então, a evolução da filosofia vitalista dentro da Quiropraxia tem avançado, especialmente pelas mãos de quatro autores: R.W. Stephenson (1927), B.J. Palmer (1934/1988), Strang (1988) e Koch (2008).

O quiropraxista R.W. Stephenson (1927) é conhecido por ter dado quatro grandes contribuições à discussão vitalista. Em primeiro lugar, ele organizou o sistema em uma sequência de 33 princípios inter-relacionados de Quiropraxia. Em segundo lugar, ele mudou a equação de Deus, inteligência universal e força vitalista de Palmer para um foco de inteligência universal apenas, como a principal premissa da quiropraxia.

Em terceiro lugar, ele mudou a compreensão de Palmer da vida como a união da inteligência universal e da matéria pela alma, para uma união pela força. Em quarto lugar, Stephenson propôs uma diferenciação entre os termos disease (doença) e dis-ease (trocadilho em inglês para falar de uma “não-doença”).

Ele colocou disease (doença) como um termo usado pela profissão médica para descrever uma entidade que poderia ser diagnosticada como uma doença nomeada. Em contraste, para ele dis-ease (não-doença) resultava da interferência causada pela subluxação na transmissão da inteligência inata por meio de impulsos mentais.

O filho de D.D. Palmer e seu sucessor, B.J. Palmer (1934/1988), argumentou que, em vez de seguir a busca da medicina por curas específicas para doenças específicas, a pesquisa e a prática da Quiropraxia deveriam se concentrar na subluxação como causa da doença. Usando a eletricidade como uma metáfora que combinava religião e mecanismo, ele descreveu o cérebro como um dínamo que gerava impulsos mentais que eram expressões de Deus. A medula espinhal formou a principal linha de transmissão através da qual esses impulsos fluíram para todas as partes do corpo.

B. J. Palmer argumentou que a anatomia única da região cervical superior da coluna vertebral significava que ela poderia funcionar como um “interruptor de resistência variável” (1934/1988, p. 65). A subluxação nessa região poderia fechar o interruptor, interferindo no fluxo da inteligência inata como impulsos mentais do cérebro para as células do corpo. A extensão em que essa chave foi fechada controlou quanta força vital nas células afetadas foi diminuída e, portanto, a extensão da doença dentro delas. Para ele, o ajuste específico da subluxação poderia religar o interruptor.

Já para Strang, a força vital é conceituada como uma forma de energia. Ele não esclareceu o que organizava essa energia nos padrões e densidades dos organismos vivos. Ele propôs ainda que o quiropraxista deveria avaliar o estado fisiológico em constante mudança do indivíduo que, em um determinado momento, posicionou esse indivíduo em uma sequência contínua entre saúde perfeita em uma extremidade, e morte no outro. Recomendou que, em vez de focar no tratamento da doença e seus sintomas, mais atenção seja dada em mover e manter o indivíduo o mais próximo possível da extremidade saudável dessa sequência contínua.

A contribuição mais recente ao vitalismo pensado por Palmer foi do autor e conferencista de filosofia quiroprática David B. Koch (2008), que examinou criticamente os princípios de Stephenson (1927) e os reescreveu em linguagem mais contemporânea. Embora a subluxação fosse o foco específico do tratamento quiroprático, Koch afirma que ajudar na remoção de qualquer interferência na manifestação da inteligência inata é o serviço supremo que um profissional de saúde genuíno poderia oferecer.

Coo toda discussão filosófica, o vitalismo também enfrenta defensores e adversários ferrenhos entre os quiropraxistas, não sendo pequena a parcela dos que se colocam no meio das duas vertentes. Há pesquisadores que ainda afirmam que há uma outra vertente chamada de neo-vitalismo, definida por seus seguidores como um reconhecimento das habilidades de auto-organização, auto-manutenção e autocura inerentes aos organismos vivos.

Fonte: The meaning and value of vitalism in Chiropractic, Richards, Dennis Milverton, disponível em https://researchportal.scu.edu.au/discovery/delivery/61SCU_INST:ResearchRepository/1279226930002368?l#1379257000002368

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