Em uma tentativa de seguir o meu próprio conselho, vou oferecer uma simplificação das minhas próprias teorias de quiropraxia para sua consideração. Quando me deparo com um problema de lógica ou ética, minha metodologia é reduzir uma ideia para a sua expressão mais simples possível. Quando toda a camuflagem e ofuscação é removida, expondo uma ideia isolada, ficam óbvios os seus pontos fortes e fracos. Simplicidade promove clareza e evita que as questões fiquem muito difíceis, permitindo que as ideias se sustentem ou caiam com base apenas em seus méritos.
Aqui, então, exponho um problema da quiropraxia em sua forma mais simples: há três paradigmas de pensamento dentro da Quiropraxia. Cada quiropraxista deve escolher um desses paradigmas, ou então esse quiropraxista irá existir em um mundo nebuloso de meias verdades, que resultará na incapacidade de falar sobre quiropraxia com clareza, e também em praticá-la.
Paradigma 1:
Afirma que a quiropraxia cura todas as doenças. Os praticantes desse paradigma, mesmo que eles sejam extremamente raros, viveriam por slogans como "O poder que fez o corpo cura o corpo”. Eles esquecem de mencionar, no entanto, que, embora seja verdade que o único poder que cura o corpo é o poder que fez o corpo, às vezes nem isso é suficiente. Algumas pessoas chegaram a um ponto em que eles não são capazes de se curar. A pretensão de que todas as pessoas doentes começam a ficar bem quando ajustadas apenas nos mantém no ridículo. Outros slogans afirmam que "a quiropraxia ajuda as pessoas doentes a ficarem bem", sem acrescentar a palavra necessária, "às vezes", o que a tornaria verdadeira. Este slogan, mesmo que fosse verdadeiro, seria oferecer tratamento quiroprático apenas para pessoas doentes e negá-lo para aqueles que ainda não estão doentes ou com sintomas clínicos.
Paradigma 2:
Esse segundo paradigma afirma que apenas algumas pessoas doentes ficam melhores quando as suas subluxações vertebrais são corrigidas. Por causa da natureza de sua doença, ou estágios avançados da sua doença, elas necessitam de intervenção médica ou terapia adjuvante.
Este paradigma de tratamento de alguns pacientes e encaminhamento de outros pacientes parece lógico, e é a forma mais provável que temos de ganhar respeito da comunidade de profissionais da saúde.
Este paradigma representa o pensamento da grande maioria dos quiropraxistas. Mesmo que haja desacordo de como os pacientes devem ser tratados, quando encaminhar esses pacientes para médicos, e quais os tratamentos que devemos administrar no consultório de quiropraxia, esse segundo paradigma está cordialmente subscrito pelas duas maiores associações nacionais (americanas).
Há, claro, um pequeno problema que surge quando decidir quais pacientes e doenças devo tratar e quais devo encaminhar: todo o tratamento ou decisões de encaminhamento são dependentes de diagnóstico. O diagnóstico é o grande ponto fraco neste paradigma na prática. O diagnóstico é, afinal, o maior desafio e a área de maior risco de ocorrência de erros. No entanto, quiropraxistas, que em sua formação tem uma carga em diagnóstico muito inferior aos médicos, acham que são competentes para diagnosticar para fins de encaminhamento. Como isso é possível quando:
▪ é negado por lei o uso de métodos de diagnóstico tais como exames laboratoriais, exames de imagem e até raios-x em alguns países;
▪ geralmente aprendem diagnóstico de livros didáticos sem nunca ver casos de doenças que se propõem a identificar;
▪ frequentemente aprendem diagnóstico de outros quiropraxistas que também aprenderam com livros didáticos e nunca viram casos de doenças.
Alguns dizem que a prática sem diagnóstico seria perigosa. Sugiro que nada é mais perigoso do que diagnósticos incompetentes. Todos os anos, dezenas de milhares de pessoas doentes visitam quiropraxistas deste segundo paradigma.
Pessoas que vão para quiropraxistas queixam-se de uma variedade de problemas, o que podem ser a manifestação de subluxação vertebral, ou poderia facilmente ser sintoma de alguma outra coisa, possivelmente uma doença que coloque a vida em risco.
Em vez de praticar a quiropraxia, o quiropraxista faz um exame médico de diagnóstico médico, seguido de um relatório médico de resultados em que o quiropraxista afirma ter identificado a causa do problema.
E com comentários jubilosos e perigosos tais como, "nós não tratamos o sintoma, nós corrigimos a causa", o quiropraxista passa a oferecer o tratamento, o que atrasa o atendimento médico para o que pode ser uma emergência médica com risco de vida.
Aquela dor nas costas realmente foi causada por uma subluxação vertebral, ou é, talvez, uma manifestação de câncer de próstata, pedras nos rins ou angina referida a partir de um ataque cardíaco iminente? Aquela dor de cabeça foi causada por subluxação ou há um aneurisma no Círculo de Willis ou um tumor no cérebro causando o sintoma? Quão competente é o diagnóstico de um quiropraxista? Outro ponto a se considerar é que, enquanto milhares de pessoas vão para quiropraxistas a cada dia, milhões ficam subluxados porque eles não têm sintomas.
Há 104 anos expomos as pessoas a uma compreensão limitada da quiropraxia o que resulta no Paradigma 2. O tratamento de algumas doenças e o encaminhamento de outras pessoas com base em nosso conhecimento de diagnóstico não é quiropraxia, é a prática da medicina manipulativa, e é muito perigosa.
O Paradigma 1 é obviamente estúpido. É tão estúpido que ninguém realmente acredita nisso. Ninguém acredita que toda doença é causada por subluxação vertebral, e deve ser afastado para que ninguém se machuque por este paradigma, exceto o quiropraxista que tenta ganhar a vida com isso.
O Paradigma 2, no entanto, parece lógico. É vendável e, subsequentemente, perigoso.
Se o paradigma 1 é estúpido, e o paradigma 2 é perigoso, vamos considerar um terceiro paradigma.
Paradigma 3:
É aquele que milhares de quiropraxistas praticam em suas famílias, mas se esquecem de oferecê-lo ao público. O Terceiro Paradigma não é nem baseado em uma alegação de curar todas as doenças e nem uma tentativa de antecipar quais doenças ou condições podem ser curadas ou amenizadas se as subluxações vertebrais forem corrigidas. Na verdade, ela não tem nenhuma base de tratamento da doença. É totalmente não terapêutica em sua intenção e prática.
A quiropraxia afirma que uma subluxação vertebral, por sua própria existência, inibe a capacidade do corpo para expressar plenamente o seu potencial inato. Cada subluxação vertebral, por definição, inclui alguma alteração da função do nervo de um estado de perfeição para um estado comprometido. Subluxação vertebral é, no mínimo, uma mudança na estrutura do corpo, e todo cientista sabe que uma mudança na estrutura deve inevitavelmente resultar em uma mudança na função. Portanto, todas as subluxações vertebrais devem resultar em função alterada. Portanto, as pessoas com subluxações vertebrais seriam melhores sem subluxações.
Não importa se uma pessoa subluxada tem uma doença ou se qualquer doença seria melhor tratada por manipulação ou por outro tratamento. A presença ou ausência de doença é irrelevante. Todo ser humano, doente ou saudável, recém-nascidos ou idosos, independentemente de nutrição, exercício, ocupação, sexo, raça, religião e todos os outros fatores da vida, eles serão melhores sem subluxação vertebral.
Por que então alguns quiropraxistas e organizações querem limitar a correção das subluxações para determinadas categorias e condições musculoesqueléticas, por exemplo?
Uma pessoa com AIDS ou câncer terminal seria melhor com subluxações ou sem subluxações? No caso de uma criança com uma subluxação vertebral, mas sem sintomas ou doença musculoesquelética deveria permanecer subluxada até ocorrer sintomas? Os sintomas são os últimos estágios do mal funcionamento, e não o primeiro. Por que não corrigir as subluxações vertebrais, quando ocorrem, ao invés de esperar por anos de danos para produzir sintomas?
Restringir a quiropraxia somente para pessoas doentes é tão estúpido como restringir a vitamina C somente para pessoas que tem uma gripe. Além disso, tentar tratar a doença por manipulação pode atrasar o tratamento adequado colocando uma vida em perigo.
Vivemos em um país que gasta bilhões de dólares por ano no tratamento de doenças e enfermidades, mas pouco investe em saúde. Nossa profissão de quiropraxia tem a missão de levar o mundo a um novo e mais inteligente modo de pensar, não seguindo os erros do passado.
O Terceiro Paradigma não é sobre saúde e doença. O Terceiro Paradigma reconhece que a subluxação vertebral prejudica mais do que apenas a perda de potencial de saúde; a subluxação vertebral traz a perda de todos os outros aspectos do potencial humano. O sistema nervoso é o sistema de coordenação em que os incontáveis bilhões de células do corpo interagem em harmonia para expressar a mente, corpo, espírito, emoção, talento artístico, velocidade, resistência, coordenação e relações familiares. A subluxação vertebral é uma causa de desarmonia a esta bela coisa que chamamos vida.
Os paradigmas 1 e 2 são a respeito de dores nas costas; o Terceiro Paradigma é sobre a VIDA!
Podemos escolher nos conformar com os erros do passado, ou podemos dar um passo com orgulho para a frente e liderar o caminho para o futuro.
O Terceiro Paradigma
Reggie Gold
Traduzido e adaptado por Daniel Duenhas, DC