Quiropraxia e Neurologia

Rael Rosa • April 24, 2021
D.D. Palmer, quando criou a Quiropraxia, tinha a sua disposição a teoria reticular, que era amplamente aceita pela ciência. A teoria reticular entendia que o sistema nervoso era uma rede contínua de comunicação. Na época ainda se falava muito do líquor como possível condutor de tal comunicação. Palmer também utilizava a teoria da degeneração valeriana, porém com uma conotação diferente da atual.

A teoria do neurônio, vigente até os dias atuais, foi lançada por Santiago Ramon y Cajal em 1906, porém somente aceita muitos anos à frente. Cajal conseguiu demonstrar a polarização de neurônios e entendeu que estas células tinham poder de comunicação entre elas. O conceito de neuroplasticidade surgiu em 1950, com Donald Hebb – “neurons that fire together wire together”. 

Quais reflexões os avanços das ciências biológicas podem trazer à nossa profissão? Quando pensamos em uma versão tradicional, e até intuitiva, do complexo de subluxação vertebral, geralmente utilizamos a ordem – cinesiopatologia, miopatologia, etc. E se a ordem desses fatores for diferente? É possível uma neurofisiopatologia criar ou contribuir potencialmente de forma primária para a causa ou manutenção de uma subluxação? Isso não significa que tratar a subluxação deixa de ser importante. Os mecanorreceptores presentes nos segmentos espinhais estão enviando sinapses constantes ao nosso sistema nervoso central, assim como o oposto também acontece. 

O que vem antes, o problema cinesiopatológico ou o neurofisiopatológico? Essa resposta depende de paciente para paciente. Independente da causa inicial, a perpetuação de um problema é criada por um loop sensório motor errôneo obrigando o sistema nervoso a adaptar-se. Isso nem sempre acontece da forma mais previsível e harmônica quanto desejamos, criando má adaptações e consequentemente disfunção. Dessa forma faz sentido buscar o entendimento de ciências que contemplem ambas as possibilidades.

Porque muitos quiropraxistas, ao utilizar diferentes técnicas, têm resultados igualmente positivos? Obviamente, pode-se haver diferença para determinados tipos de aplicações técnicas a determinados casos, porém pode-se afirmar que a existência e consolidação de técnicas quiropráticas ao longo da história da nossa profissão se deu pelo sucesso que elas apresentam em ajudar pacientes a obterem uma saúde melhor. Imagino que isso seja indiscutível, pois tais resultados estão diretamente relacionados ao sucesso de nossa profissão como um todo. Podemos então pensar que deve haver um alvo em comum para todas essas diferentes abordagens – o sistema nervoso central. 

Lembrando que para o cérebro manter sua sobrevivência, é necessário atividade dos fusos musculares e demais mecanorreceptores, que se dá pelo efeito de uma variável constante que garante a ativação basal desses receptores, a gravidade. O quiropraxista, por natureza, trabalha no sistema de maior influência para a manutenção e reprodutibilidade do sistema nervoso, e por essa e outras razões que não cabem no contexto desse texto, nossa profissão é tão poderosa.

Analisar a resposta de cada paciente individualmente, entender a capacidade metabólica ou o estado de integração central de um grupo de neurônios do sistema nervoso são conceitos que herdamos da neurologia funcional e agregam valor à quiropraxia, independente do tipo de prática que cada quiropraxista escolhe para sua rotina clínica. 

Temos uma profissão com muitas vertentes técnicas e paradigmas de atuação. Ao meu ver, as diferentes opiniões criam enormes possibilidades de aprendizado se estivermos abertos a ouvir aquelas que diferem das nossas. São as divergências que trazem os questionamentos e reflexões que reformulam nossos paradigmas. A ciência busca responder tais perguntas, e nossa arte continua tocando cada paciente para uma melhor existência e expressão de vida.

Rael Rosa ABQ 260
Bacharel em quiropraxia

Share by: